Filho de Fábio Jr., estreia no cinema e na TV como ator, corre o país com sua banda e vira ídolo da garotada.
"Um dia me ligou um cara e disse: "Véio [Velho], tem como você falar com seu pai pra ele me colocar na "Malhação'?'". Essa não foi a primeira vez- e não será a última- que o cantor e ator Fiuk, nome artístico de Filipe Galvão, 19, ouviu essa frase. "O que me incomoda é que as pessoas não sabem o que eu passo e falam: "Tá aí só por causa do cara, fazendo música só porque é filho do cara"."
Ele garante que o "cara" em questão, seu pai, o cantor Fábio Jr., não deu nenhum telefonema para que o filho se tornasse protagonista da novela adolescente "Malhação ID", da Globo. "Um amigo me indicou para os testes do filme "As Melhores Coisas do Mundo" [que estreou na sexta], da Laís Bodanzky. Eu passei e ganhei um papel. Quando as filmagens acabaram, fui chamado junto com outras pessoas do elenco para fazer testes na Globo e entrei em "Malhação'", conta, enquanto aguarda no camarim para gravar o programa "Altas Horas", em São Paulo. Em cinco meses no ar, Fiuk (que ganhou o apelido aos dez anos, de um amigo) virou a mais nova estrela brasileira. Sua página no Twitter tem 412 mil seguidores. Ele tem mais de 50 fã-clubes na web.
"Preciso passar um corretivo aqui, ó", mostra um machucadinho em cima do nariz. "Meu papagaio Bob me bicou, acredita? Fica tanto tempo sem me ver que ficou doido." São 11h30 de uma quinta-feira fria na capital paulista. O rapaz, de calça jeans azul, camisa branca, malha preta, moletom amarelo, tênis branco com cadarços roxo e rosa num pé e rosa e verde no outro, acaba de acordar de um cochilo no camarim. "Peguei o avião às 23h40 ontem, no Rio [onde se hospeda em um flat]. Dormi na casa do meu pai [onde mora], em Alphaville (SP), e cheguei aqui hoje às 10h30 para passar o som com a banda. Amanhã volto para o Rio e à noite faço show em Cubatão (SP). Não tenho tempo pra dormir, pra ligar pra quem eu gosto, pra ficar em casa. É uma rotina bizarra", diz.
"Vamos tocar "Segredinho" [a música "Segredo']?", pergunta para os outros integrantes da banda. "Começa daquele jeito, Xande [baterista], aí eu falo "levanta a mão, galera'". "Aprendi a tocar violão com nove anos porque minha mãe [a artista plástica Cristina Kartalian] me obrigou, depois comecei a tocar guitarra, fiz aula de bateria e decidi que seria vocalista de banda." Fez algumas aulas de canto, mas logo parou. "Perguntei para o meu pai como eu aprendia a cantar. Ele disse: "cantando".
Até junho a Hori, que lançou o primeiro CD no ano passado pela Warner e emplacou uma música na abertura de "Malhação", não tem mais datas para shows. "O cachê da banda aumentou quase dez vezes depois que o Filipe entrou na novela",diz o empresário Celso Giunti, o mesmo de Fábio Jr. Com o dinheiro que ganhou até agora, conseguiu comprar "a guitarra do sonho, uma Gibson 335". "Dinheiro não me atrai."
"Fiuk, pelo amor de Deus, tira uma foto comigo?", pede a fã Julie, 17, na porta do camarim. Ela entrega um papel para ele: "Por favor, me segue no Twitter! Sei que você só segue 140 pessoas, mas me adiciona. Aqui está o meu nome."
Antes da pausa para o almoço, ele participa de reunião com uma grife que o contratou para assinar uma linha de roupas. Discutem as fotos para o catálogo da marca. Fiuk dá palpite em tudo. "Baixaram umas ideias aqui e agora que podem ser ridículas, mas vou falar. Imagina eu ali na praia com uma guitarra. A música atrai muito mais", fala. "Eu sei o que quero. Não é por pretensão. Não é que o azul é melhor que o roxo, mas eu quero branco." Foi sabendo o que queria que ele abandonou a faculdade de publicidade após um ano. "Eu ficava compondo nas aulas. Aquilo não era pra mim."
Durante a gravação de "Altas Horas", as meninas gritam: "Fiuk, eu te amo!", "Liiindo!". Quando a Hori começa a tocar "Só Você", um dos sucessos na voz de Fábio Jr., o público canta em coro. "Pra mim é um tesão gravar uma música do meu pai. Ele é um deus pra mim, é muito foda!", diz, antes de entrar na van que o levaria para casa, às 20h.
"Quer um cafezinho? Esse aqui tá bom, forte", oferece à repórter no começo da tarde de terça-feira, desta vez no Projac, no Rio, onde grava "Malhação". "Hoje estou mole, com uma gripezinha", diz. Ele senta numa mureta com café na mão, cigarro na outra- fuma desde os 15 anos- e começa a ler e repetir baixinho as falas de Bernardo, seu personagem na novela. Batuca com as mãos em cima da perna, como se tocasse bateria. "Faço isso o tempo todo, não consigo ficar parado."
O capítulo a ser gravado aborda o vício do crack. É o chamado "merchandising social" da trama, diz a assessora da TV Globo. "Minha geração, de classe média alta, não teve dificuldade. Sempre teve o que comer, carro na garagem. Então é muito mais fácil cair na tentação de uma droga", diz. "Eu não sou perfeito. Mas sou muito focado. Não trocaria minha carreira por uma "viagem". Minha droga é o palco."
Fiuk não acha que sua geração seja careta, mas sim "abstrata". "Se a gente pegar dez pessoas aqui, uma vai falar que é homossexual, a outra que odeia gay, a outra que não tem preconceito. Hoje a galera está mais liberal em todos os sentidos. Pra mim, por exemplo, são poucas mulheres que se valorizam. Banalizou muito. Menina de 12 anos perde a virgindade, com 13 sei lá o que faz."
Depois de gravar as duas cenas que tem no dia, o ator segue para o restaurante da emissora, com o assistente de produção Ademir Gomes. Ele se lembra do dia em que o ator ajudou um faxineiro a carregar uma caixa de água e foi aplaudido por vários funcionários da TV. "Fiquei muito chateado [com as palmas]. Foda-se que tô na Globo, aqui todo mundo é igual. O mundo é muito mais simples, pra quê complicar tanto, né?"
Pede um frango grelhado com purê de batatas e um guaraná. O telefone toca. "Oi, amor, tudo bem?". É a namorada, Natália, produtora de moda. "Sou caretão, romântico pra caramba. Acho o amor uma coisa animal. E o amor é uma parada de rock. Meu pai, então, é rock'n'roll total."
Aos 27 anos, Natália é oito anos mais velha do que ele. Novo ídolo das adolescentes, Fiuk dá o seu recado: "Nunca me relacionei com meninas mais novas. Eu não sou mais maduro que ninguém, mas com as mais novas nunca tinha papo, era muito nhenhenhém."
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